terça-feira, 18 de outubro de 2016

Summer Camp (2015): quando os clichês de filmes de terror fazem rir


Durante muito tempo, um dos grandes filões dos filmes de terror tiveram como cenário acampamentos, na onda do sucesso de franquias como Sexta-Feira 13. Um nicho, entretanto menor que o ainda atual tema que talvez predomine nas produções do gênero há alguns anos, os zumbis. O filme de horror espanhol Campamento del Terror (ou Summer Camp, título original em inglês) une as duas coisas em uma história que não se leva muito a sério.

Quatro jovens naturais dos Estados unidos vão durante as férias trabalhar como monitores no interior da Espanha, em um acampamento que tem como base um velho e enorme casarão. A história começa a tomar rumo quando um cachorro, entre os animais que ficam ali, começa a demonstrar sinais semelhantes aos da raiva. É o momento em que se inicia uma infecção que se espalha, transformando o local no palco de inúmeras perseguições que podem custar a vida dos protagonistas.

No ponto em que a epidemia impera, o longa se transforma praticamente em uma típica comédia de erros, apesar do horror continuar. A parte de humor fica justamente pelas situações que vão se encadeando a partir das transformações que vão ocorrendo nos personagens, com um diferencial em relação a outras narrativas de zumbis: os danos não são permanentes, ou seja, depois de um período infectada a pessoa volta ao estado normal. Isso torna a corrida pela sobrevivência mais imprevisível e, por que não, divertida para quem assiste.

Alberto Marini consegue fazer de Campamento del Terror um filme que mistura com inteligência os clichês de películas do gênero, não se levando a sério o suficiente para irritar quem assiste, o que torna muitas produções pra lá de pretensiosas. Pelo contrário, quem quiser uma diversão descompromissada e com um nível superior à média, ainda que sem grandes expectativas, vai encontrar um bom passatempo.



Summer Camp (2015)
Espanha
Diretor: Alberto Marini
Elenco: Diego Boneta, Maiara Walsh, Jocelin Donahue, Andrés Velencoso
Duração: 1h21
Cotação: 6/10
Disponível no Netflix

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Despertar dos Mortos (2009) - quando Freud chorou...

Em O Mal Estar na Civilização, Sigmund Freud identificava o que seriam as três fontes do sofrimento humano: "(...) o poder superior da natureza, a fragilidade de nossos próprios corpos e a inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade". Em geral, uma, duas ou as três fontes estão presentes nos filmes de terror. Em Despertar dos Mortos (2009), disponível no Netflix, o trio está presente e é o ponto de partida de uma história que poderia ser interessante, mas não é.

Patrick (Aidan Gillen) e Louise (Eva Birthistle) formam um jovem casal em crise que se mudou para Wake Wood (título original do filme), após a morte de sua pequena filha Alice (Ella Connolly), atacada por um cachorro. Os animais, aliás, são uma constante no filme, ora algozes (representando a natureza, segundo Freud), ora vítimas.

Enquanto Patrick é um médico veterinário que cuida em especial do gado da pequena cidade, Louise gerencia uma farmácia. Como toda pequena cidade, à primeira vista a sociedade local é hostil aos forasteiros (Freud de novo), impressão que fica ainda pior para Louise quando ela presencia um ritual pagão.

Diante da iminente saída do casal não adaptado da cidade, Arthur (Timothy Spall), empregador de Patrick, resolve convencê-lo de forma, digamos, inusitada. Sabendo que a esposa do veterinário viu o ritual, ele propõe trazer de volta, pelo período de três dias, a filha deles. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que ela tenha morrido há menos de um ano, o que não é o caso. Os pais mentem para ver a filha novamente e daí fica evidente que algo vai sair muito errado.



Atenção, mais spoilers à frente

Até o ponto em que se encaminha a ressurreição de Alice o filme consegue criar um clima de opressão, com uma cidade hostil e um casal em sofrimento. As pessoas são tristes, a fotografia é sombria e alguns fatos inusitados criam um clima de suspense. Porém, quando os fatos começam a ficar explícitos, a história desanda totalmente.

Desde o ritual, detalhado de forma inexplicável e conduzido com ausência total de sentido, até a volta da menina e sua transformação em algo que não se sabe o que é, sem qualquer justificativa que não a quebra de uma regra, a narrativa se atropela beirando o nonsense. são inúmeros furos que não amarram um acontecimento a outro e o final... Bem, o final é a cereja do bolo. Um bolo mal feito. Talvez com açúcar demais.

Não confundir Despertar dos Mortos...

... com um filme homônimo na língua de Camões realizado em 1978 e dirigido por George A. Romero, com título original de Dawn of the Dead.



Despertar dos Mortos (Wake Wood)
2009
Direção: David Keating
Elenco: Aidan Gillen, Eva Birthistle, Timothy Spall, Ella Connolly.
Duração: 90 min.
Cotação: 4/10
Disponível no Netflix