domingo, 11 de junho de 2017

Viral (2016) - zumbis, epidemia e um amontoado de clichês

Filmes pouco originais muitas vezes funcionam por uma direção ágil, atores interessantes ou trama envolvente. Não é o caso desse horror em cartaz no Netflix

Um pai com o casamento em crise se muda para um condomínio em uma cidade pequena após ser demitido da universidade em que dava aula. Com duas filhas adolescentes, uma mais "rebelde" e outra tímida, a família se adapta à sua nova vida quando uma estranha infecção, causada por parasitas, se alastra pelo planeta, chegando à pacífica Shadow Canyon.

Por essa sinopse você já deve achar "hum, já vi histórias parecidas antes". Pois é, mas os clichê não vão parar por aí. E se existem algumas histórias-padrão que acabam agradáveis de assistir por terem um ritmo e uma direção envolventes — neste caso, a película é co-dirigida por Henry Joost e Ariel Schulman, de Atividade Paranormal 4 —, por um roteiro diferenciado e/ou por atores que se sobressaem, nada disso se aplica a Viral (2016). O filme é um gigantesco mais do mesmo que não comove, não dá sustos e só surpreende pela existência de incongruências gritantes.

Como pano de fundo, o filme pode remeter a uma crítica às tentativas usuais de se isolar dos problemas do mundo atual ou das questões que incomodam no dia a dia, ideia que os condomínios representam tão bem. Mas é difícil pensar que uma trama tão mal acabada possa traduzir isso de uma forma interessante. Ainda mais pensando que um clássico como Calafrios, de David Cronenberg, já fez isso de forma magistral, inclusive com a epidemia se propagando por meio de um parasita.

Ok, mas mesmo assim o filme poderia ser razoável. Como, se o roteiro é quase infantil ao ligar uma situação e outra, com passagens pouco críveis. No meio de um toque de recolher, por exemplo, há uma festa organizada por adolescentes. As duas adolescentes conseguem ir até lá porque o pai (Michael Kelly, o Doug Stamper de House of Cards) ficou preso em um bloqueio ao ir buscar a mãe no aerporto. A cidade está militarizada, mas todos os jovens conseguem ir tranquilamente à festa. Provavelmente todos os pais ficaram presos no dito bloqueio também...

Obviamente, como natural em muitos filmes de terror em que a "rebeldia" é punida, a ousadia dos jovens trará consequências. e entre as duas irmãs, fácil saber quem vai se dar mal primeiro. Como já dito, a previsibilidade não é um problema tão grande quando a história é interessante, mas, quando não é, o desastre representado pelo filme só aumenta.



Viral (2016)
Estados Unidos, 1h25
Direção: Henry Joost, Ariel Schulman
Elenco: Sofia Black-D'Elia, Analeigh Tipton, Travis Tope, Michael Kelly.
Cotação: 2/10
Disponível no Netflix

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terça-feira, 23 de maio de 2017

Ludo (2015) - filme de terror indiano é sangrento, confuso e irregular

Quem vê a primeira parte do filme Ludo (2015), do diretor indiano Qaushiq Mukherjee, vai ter a impressão de que se trata de uma história contando as dificuldades de ser jovem na Índia, mesmo em uma cidade grande como Calcutá.

Ali, quatro jovens, dois homens e duas mulheres, personificam o conflito de um país que tem uma cultura patriarcal e uma forte tradição religiosa que ocupa a maioria de seus espaços convivendo com uma crescente influência do mundo ocidental. Tais diferenças são mostradas no filme de forma pouco sutil, como, por exemplo, quando os jovens passeiam de moto em meio a charretes.

Os quatro buscam um lugar para fazer sexo, mas os motéis exigem que sejam casados para abrigá-los. Antes, são extorquidos por dois policiais ao sair de um restaurante, uma cena tão evidentemente feita para espectadores estrangeiros quanto sua intenção de associar o ato de corrupção a um cenário terceiro-mundista. Não conseguindo encontrar nenhum motel que os aceite, vão parar num shopping center, aguardando para que feche e eles possam usufruir do local.

Até esse momento, o filme é um. Banal, sem surpresas, feito para turistas. Mas quando encontram um casal de velhos (aqui você vai ter que acreditar na narrativa da obra, já que a maquiagem tosca que remete a personagens do Chico Anysio não permite achar que os atores são velhos realmente), tudo muda. Os quatro são introduzidos a um jogo, o ludo do título do filme, que segue as regras daquele mesmo a que você está acostumado a ver.



É nessa virada que o terror começa. E se a narrativa era insossa, agora ela se torna confusa, frenética e muito, muito sangrenta. A história logo mais passa a ser narrada pela suposta idosa, para contar a origem dos dois monstros, meio vampiros, meio canibais, e o que está de fato em jogo no ludo.

Explorar a sexualidade de jovens, eventualmente punida por monstros, maldições, psicopatas e quetais não é propriamente uma novidade em termos de filme de horror. Mas a forma como a história, pobre, é contada não empolga. A segunda metade do filme privilegia cenas pretensamente impactantes, com imagens que deveriam ser fortes, mas que não atingem o objetivo. Mesmo a parte que deveria apresentar ao espectador um pouco da cultura indiana e as contradições vividas pelos jovens do país é simplista e estereotipada.

Se você quiser conhecer o cinema indiano, passe longe de Ludo. Tem muitos melhores por aí.

Ludo (2015)
Índia
Duração: 1h30
Direção: Qaushiq Mukherjee
Elenco: Joyraj Bhattacharya, Soumendra Bhattacharya, Ranodeep Bose e Ananya Biswas.
Disponível no Netflix
Cotação: 2/10

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Hush (2016), a morte ouve – ideia básica, filme interessante

O tema tratado por Hush (2016) é um dos mais utilizados em filmes de suspense/terror. A invasão de domicílio por um ou mais desconhecidos é uma daquelas situações que reforça a empatia de quem assiste com o (a) protagonista, tratando-se de algo que poderia – em tese – acontecer com qualquer um. É o dito horror “possível”.

Por conta disso, esse subgênero é dos mais visitados e mais suscetíveis a toda sorte de clichês. Em geral, não envolve muito esforço para sua realização e sugere aquelas histórias banais filmadas para a televisão estadunidense exibidas em alguma sessão do Supercine, em um sábado à noite, na Globo. Contudo, o filme dirigido por Mike Flanagan (O Espelho e Ouija – Origem do Mal), disponível no Netflix, não cai nessa armadilha, até porque tem um elemento a mais para reforçar a dramaticidade de uma perseguição.

Madison "Maddie" Young (Kate Siegel) é uma escritora que vive sozinha em uma casa em um lugar relativamente remoto. Uma de suas únicas companhias é a vizinha Sarah (Samantha Sloyan), apresentada logo no início da narrativa. Maddie ficou surda e muda após contrair uma meningite quando tinha treze anos, e é nesse diferencial que se constrói boa parte da tensão da película.

Logo surge a figura de um assassino após a apresentação das duas personagens. E começa a batalha entre a protagonista, que luta sozinha contra o estranho criminoso. Uma luta obviamente desigual e que Flanagan faz questão de evidenciar nas primeiras cenas do antagonista de Maddie, quando ele observa a escritora sem ser percebido. É o cenário de impotência explorado em diversos filmes, sendo talvez o mais célebre Janela Indiscreta, onde o personagem principal tinha outro tipo de limitação.



Mas Madison não é uma “final girl” (expressão atribuída as mulheres sobreviventes em filmes de terror) qualquer. Seu perseguidor tem um lado sádico, transparecendo também subestimar o potencial de sua vítima. É desse contraste que decorre toda a tensão da história, seguindo em uma crescente à medida que a protagonista vai sofrendo no embate com seu algoz. Um clima que piora com a quase absoluta falta de diálogos predominante no filme, muito centrado na ótima atuação de Kate Siegel, responsável por boa parte do sucesso da trama.

No entanto, nem tudo são flores. Vendo a sinopse, muitos vão se perguntar: como sustentar um filme baseado somente nisso? Embora o roteiro seja bem costurado – atente para as cenas iniciais que dão dicas sobre o que acontece mais à frente – algumas das saídas encontradas pela protagonista são soluções fáceis, e a sua inventividade de escritora, vantagem utilizada como arma na narrativa, não aparece como deveria. Isso resulta em algumas oscilações e pode cansar um pouco quem não estiver completamente envolvido com o drama da protagonista.

Com esses prós e contras, o resultado final é um filme acima da média para o padrão de películas semelhantes.

Hush (2016)
Direção: Mike Flanagan
Elenco: Kate Siegel, John Gallagher Jr., Michael Trucco
Nacionalidade: EUA
Duração: 1h27

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Ghoul (2015): canibalismo, um serial killer real e mais do mesmo

A co-produção tcheco-ucraniana Ghoul (2015) é mais um found footage que explora dois temas constantes em filmes de horror: o canibalismo e um serial killer. Desta vez, porém, a ideia é partir de fatos reais para se chegar a uma história que trata de um espírito em um local mal assombrado que, obviamente, vai trazer tudo de ruim para quem estiver no lugar.

A narrativa começa com um grupo de três estadunidenses que viajam a Ucrânia para fazer um documentário a respeito do Holodomor, a grande fome ucraniana do início da década de 1930, que teria se notabilizado pela suposta epidemia de canibalismo que teria assolado o país. Lá, os estrangeiros vão parar em um casebre construído no interior de uma floresta para entrevistar um dos últimos sobreviventes do episódio. Estão acompanhados de uma tradutora, um guia local e uma cigana. Logo, vão descobrir que não estão sozinhos ali.

Quando acontecimento e estranhos começam a ocorrer a partir de uma invocação por meio de um tabuleiro ouija (sim, a tal "brincadeira do copo"), os visitantes vão descobrir algo que, na verdade, foi o grande chamariz do filme em países como a República Tcheca, onde a película fez grande sucesso. A casa está assombrada pelo espírito de Andrei Chikatilo, um serial killer real conhecido por apelidos como o Açougueiro de Rostov ou o Estripador Vermelho. Ele confessou ser o assassino de 53 pessoas entre os anos de 1978 e 1990, sendo executado em 14 de fevereiro de 1994 na Rússia.



Um país pouco usual nas telas de cinema, duas histórias também não muito abordadas e poderíamos ter um filme que saísse do lugar comum. Mas não. Ghoul é um amontoado de clichês, não encontrando uma linha narrativa que se sustente e deixando de garantindo sequer aquilo que se espera de boa parte dos found footage, um susto de vez em quando. O espírito maligno da história oscila entre o tipo que perturba psicologicamente as pessoas, passando pela possessão, telecinese e mesmo incorporação. Um "super espírito" reunindo remissões a filmes que certamente você já viu. Tudo junto e misturado.

No final, a sensação é de que, em algum momento da história, quando até se tenta criar um clima de suspense, deixando o espectador curioso, deixou-se de lado a pretensão de se fazer um filme de horror para simplesmente se fazer o horror. No caso, um horror de filme.




Ghoul (2015)
República Tcheca/Ucrânia
Direção: Petr Jakl
Elenco: Debra Garza, Jennifer Armour, Jeremy Isabella, Paul S. Tracey e Alina Golovlyova.
Cotação: 2/10
Disponível no Netflix

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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Summer Camp (2015): quando os clichês de filmes de terror fazem rir


Durante muito tempo, um dos grandes filões dos filmes de terror tiveram como cenário acampamentos, na onda do sucesso de franquias como Sexta-Feira 13. Um nicho, entretanto menor que o ainda atual tema que talvez predomine nas produções do gênero há alguns anos, os zumbis. O filme de horror espanhol Campamento del Terror (ou Summer Camp, título original em inglês) une as duas coisas em uma história que não se leva muito a sério.

Quatro jovens naturais dos Estados unidos vão durante as férias trabalhar como monitores no interior da Espanha, em um acampamento que tem como base um velho e enorme casarão. A história começa a tomar rumo quando um cachorro, entre os animais que ficam ali, começa a demonstrar sinais semelhantes aos da raiva. É o momento em que se inicia uma infecção que se espalha, transformando o local no palco de inúmeras perseguições que podem custar a vida dos protagonistas.

No ponto em que a epidemia impera, o longa se transforma praticamente em uma típica comédia de erros, apesar do horror continuar. A parte de humor fica justamente pelas situações que vão se encadeando a partir das transformações que vão ocorrendo nos personagens, com um diferencial em relação a outras narrativas de zumbis: os danos não são permanentes, ou seja, depois de um período infectada a pessoa volta ao estado normal. Isso torna a corrida pela sobrevivência mais imprevisível e, por que não, divertida para quem assiste.

Alberto Marini consegue fazer de Campamento del Terror um filme que mistura com inteligência os clichês de películas do gênero, não se levando a sério o suficiente para irritar quem assiste, o que torna muitas produções pra lá de pretensiosas. Pelo contrário, quem quiser uma diversão descompromissada e com um nível superior à média, ainda que sem grandes expectativas, vai encontrar um bom passatempo.



Summer Camp (2015)
Espanha
Diretor: Alberto Marini
Elenco: Diego Boneta, Maiara Walsh, Jocelin Donahue, Andrés Velencoso
Duração: 1h21
Cotação: 6/10
Disponível no Netflix

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Despertar dos Mortos (2009) - quando Freud chorou...

Em O Mal Estar na Civilização, Sigmund Freud identificava o que seriam as três fontes do sofrimento humano: "(...) o poder superior da natureza, a fragilidade de nossos próprios corpos e a inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade". Em geral, uma, duas ou as três fontes estão presentes nos filmes de terror. Em Despertar dos Mortos (2009), disponível no Netflix, o trio está presente e é o ponto de partida de uma história que poderia ser interessante, mas não é.

Patrick (Aidan Gillen) e Louise (Eva Birthistle) formam um jovem casal em crise que se mudou para Wake Wood (título original do filme), após a morte de sua pequena filha Alice (Ella Connolly), atacada por um cachorro. Os animais, aliás, são uma constante no filme, ora algozes (representando a natureza, segundo Freud), ora vítimas.

Enquanto Patrick é um médico veterinário que cuida em especial do gado da pequena cidade, Louise gerencia uma farmácia. Como toda pequena cidade, à primeira vista a sociedade local é hostil aos forasteiros (Freud de novo), impressão que fica ainda pior para Louise quando ela presencia um ritual pagão.

Diante da iminente saída do casal não adaptado da cidade, Arthur (Timothy Spall), empregador de Patrick, resolve convencê-lo de forma, digamos, inusitada. Sabendo que a esposa do veterinário viu o ritual, ele propõe trazer de volta, pelo período de três dias, a filha deles. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que ela tenha morrido há menos de um ano, o que não é o caso. Os pais mentem para ver a filha novamente e daí fica evidente que algo vai sair muito errado.



Atenção, mais spoilers à frente

Até o ponto em que se encaminha a ressurreição de Alice o filme consegue criar um clima de opressão, com uma cidade hostil e um casal em sofrimento. As pessoas são tristes, a fotografia é sombria e alguns fatos inusitados criam um clima de suspense. Porém, quando os fatos começam a ficar explícitos, a história desanda totalmente.

Desde o ritual, detalhado de forma inexplicável e conduzido com ausência total de sentido, até a volta da menina e sua transformação em algo que não se sabe o que é, sem qualquer justificativa que não a quebra de uma regra, a narrativa se atropela beirando o nonsense. são inúmeros furos que não amarram um acontecimento a outro e o final... Bem, o final é a cereja do bolo. Um bolo mal feito. Talvez com açúcar demais.

Não confundir Despertar dos Mortos...

... com um filme homônimo na língua de Camões realizado em 1978 e dirigido por George A. Romero, com título original de Dawn of the Dead.



Despertar dos Mortos (Wake Wood)
2009
Direção: David Keating
Elenco: Aidan Gillen, Eva Birthistle, Timothy Spall, Ella Connolly.
Duração: 90 min.
Cotação: 4/10
Disponível no Netflix